As festas religiosas - e são tantas as que realizam neste mês de Agosto por todas as ilhas açorianas - tinham maior expressão no acto litúrgico propriamente dito. Os dias de novena que antecediam o dia da festa, já eram de festa. A parte da tarde desses dias era destinada ao acto religioso, constituído por hinos e ladainhas cantados pela Capela própria, por vezes com o reforço de músicos de fora da paróquia, e não faltava a pregação para a qual era normalmente convidado um orador de fama. Nos três últimos dias, a novena terminava com Bênção do Santíssimo, solenemente exposto em seu Trono.
A parte externa constava tão somente do arraial nocturno normalmente realizado de véspera, com fogo preso e iluminação à “veneziana”. (A electricidade ainda não tinha cá chegado). O tiroteio entre o castelo e o navio, era por vezes empolgante e dava testemunho do valor artístico do pirotécnico. O fogo de artifício era construído na ilha Terceira, depois passou a ser no Cais do Pico, por artistas dali. Esse arraial servia também para se arrematarem as numerosas ofertas e promessas, de todos os géneros, que o povo cristão levava para ajuda das despesas da festa do seu padroeiro.
Num dos seus escritos, acerca da origem e solenidade da Festa de Nossa Senhora de Lourdes, na vila das Lajes, sua terra natal, que teve início em 1883, refere o então reitor do Seminário de Angra, depois Bispo de Macau, Dr. João Paulino de Azevedo e Castro:
“Durante o dia da festa e na véspera, as proximidades da igreja acham-se vistosamente embandeiradas, e na noite dum desses dias, conforme o tempo o permite, tem lugar uma bonita iluminação chinesa que aqui atrai concurso imenso de espectadores”. (Do artigo Incremento da devoção publicado no “Peregrino de Lourdes” de 27 de Junho de 1889, decorridos que são 120 anos!)
Pelos anos fora era esse como que o figurino das festas religiosas principais da Ilha. Depois, com a criação das Filarmónicas, os arraiais nocturnos passaram a ser constituídos por concertos musicais, para os quais aqueles agrupamentos musicais se preparavam com os seus melhores repertórios. E que aplaudidos eram pelas centenas de espectadores! Acontecia em alguns anos, não poucos, virem Bandas da ilha do Faial, ou a “Artista Faialense”, ou a “Artista Flamenguense” e também a “Unânime Praiense”, da Praia do Almoxarife, que se ofereciam para, gratuitamente, tomarem parte nas festas das Lajes, pois os concertos tinham larga assistência e eram entusiasticamente aplaudidos.
A partir do início da última metade do século passado, tudo se modificou. Nasceram as “Semanas de Festas” com programas diversificados: culturais, recreativos e desportivos. E, embora se mantenham os arraiais nocturnos e os concertos das filarmónicas locais, o que mais interessam são os modernos grupos de música pop, contratados no continente ou em outras ilhas e algumas vezes no estrangeiro. Com tais festejos parece haver diminuído o interesse das populações, principalmente da juventude, pelas solenidades religiosas, embora ainda se mantenha o Novenário e a liturgia solene do próprio dia.
É o caso da Festa de Santa Maria Madalena, do Bom Jesus em São Mateus, Calheta de Nesquim e Criação Velha, de São Roque, na Matriz do titular e de Nossa Senhora de Lourdes na Vila das Lajes, para só referir as maiores.
Interessa aqui lembrar que, com excepção da Madalena e Criação Velha, as demais solenidades tinham o concurso e o empenho dos baleeiros locais que contribuíam para o brilhantismo das solenidades com importâncias monetárias, por vezes avultadas, retiradas das respectivas “soldadas”.
E tanto assim que, ainda hoje, os baleeiros lajenses que restam, fazem empenho em estar presentes com as canoas, que se colocam em frente das antigas casas dos botes – hoje “Museu dos Baleeiros” – numa homenagem respeitosa Àquela Senhora que os livrou tantas vezes de perigos e mortes iminentes. O mesmo acontecia no Cais do Pico por ocasião das festas de Nossa Senhora do Livramento.
Neste momento só pretendo recordar o estilo das festividades de há cem anos. O resto fica para outra ocasião.
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